29 de dezembro de 2009

querido continente (parte 358)

Meus parabéns. €1,49 já é muito bom. E tendo em conta que a música dele é das coisas mais traumatizantes que já ouvi na vida, se calhar volto a frequentar-te...

E que tal baixares o preço do polvilho para os €1,o9 de antigamente? É que já tenho saudades de comer pão de queijo...
Obrigados.

18 de dezembro de 2009

e um referendo sobre os referendos? nom?

Não há pachorra. Perguntar ao zé povinho (que inclui gente para quem ser homem-sexual é violar criancinhas) o que pensa do casamento alheio é aquilo a que eu chamo gastar papel à toa.
Tanta árvore a morrer em vão.

8 de dezembro de 2009

se acaso eu morrer

Se acaso eu morrer e ficar desfigurada.
Se não sobrar o maxilar com os parafusos, nem o polegar com a cicatriz, nem coisa nenhuma que me identifique facilmente.
Não percam tempo com amostras de ADN.
É abrir o cadáver e ver o conteúdo do estômago e intestinos.
Se tiver no mínimo 55% de cacau.
Sou eu.

E descansem.
Morri feliz.

27 de novembro de 2009

pedido de ajuda

Ainda há pessoas boas. Esta cadelinha, a Maya, arranjou um dono na Alemanha. Já tem boleia do Porto até Lisboa e também quem a leve de avião até à sua nova casa. Só não tem quem lhe dê abrigo e muito mimo nos dias 30, 1 e 2.

Alguém pode ajudar?

26 de novembro de 2009

apetece-me dizer duas coisas

Primeira coisa:

Nunca se deve dizer a alguém que engordou, seja meio quilo, seja trinta quilos. "Ah estás tão gordo!" ou "Ehehehe, engordaste um bocadinho..." ou "Ai que gorda!!!" ou "Estás com uns quilinhos a mais?!" ou "Ai o que te aconteceu!!!?"

Sim, porque isto existe. Existe e - pasmem-se- normalmente quem engorda (seja meio quilo, seja trinta quilos) é a primeira pessoa a notar e não precisa que lhe digam. Muito menos em voz alta, muito menos com tom de asco, muito menos quando não se via a pessoa há séculos e haveria tantas outras coisas para dizer primeiro. Meu deus.
Eu recentemente voltei ao mundo da normalidade (alerta ironia). Posso comprar roupa em lojas de gente. Os números normais servem-me. E quanto mais me observo neste mundo mais horror sinto ao lembrar-me de quando tinha 15 anos e ouvi coisas inimagináveis da boca de pessoas conhecidas. Porque subitamente engordei dez quilos. E os outros têm direitos sobre o nosso corpo e sobre a nossa aparência e sobre a nossa saúde. Eu não sabia disto, aos 15 anos, portanto fiquei surpreendida e sem reacção, de todas as vezes. E muito magoada. Mas é assim. Os magros mandam no mundo. Os normais. Mesmo que não sejam pessoas próximas, mesmo que não saibam o que se passa na nossa vida, mesmo que não nos vejam há mais de cinco anos. Ai que gorda!!! "Põe os olhos na tua mãe!", disse-me um médico. Já estávamos nós a sair do consultório. Eu tinha 15 anos. Não sei quantas pessoas estavam na sala de espera. Mas ouviram com certeza. E eu gigante ao lado da minha mãe, sempre pequenina e elegante. Saí dali do tamanho de uma formiga. A minha auto-estima ficou pelo caminho.
Se eu soubesse o nome desse ortopedista escrevia-o agora aqui.


E por falar em médicos. Segunda coisa:

Ontem fui ao meu novo-e-para-sempre-amado-ginecologista. E, mais uma vez chegada ao mundo normal, onde as coisas acontecem como deve ser, saio horrorizada com o meu passado. E agora posso encher a boca para dizer que o último ginecologista onde fui, no hospital particular em Viana é um incompetente. Ignorante, retrógrado, insensível e preconceituoso. Ainda bem que não lhe contei da minha faceta sado-masoquista ou do fetiche com animais de grande porte. Acho que ele teria chamado a polícia.
Eu já nem exijo que a pessoa que calça as luvas e nos enfia instrumentos estranhos nos países baixos seja delicada. Mas não é suposto confiarmos no nosso médico? Não é suposto ele esclarecer-nos e deixar-nos minimamente à vontade para falar de (oh meu deus oh meu deus) sexo? Da nossa vida íntima, sem medo ou vergonha. Assim como eu faço com o meu Dr R... assim como deveria ser com um... como é que se diz? Ah! MÉDICO!

25 de novembro de 2009

ai jasus que começam as reclamações

Estou viva! Que mania esta de se manterem informados sobre a minha vida através do blog... se soubessem o que eu sei telefonavam-me a perguntar pelas novidades, vos garanto. Há coisas que não se publicam na tia net, minha gente forreta.
Posso adiantar que estou óptima. Feliz da bida. Não posso deixar de reparar que daqui a um mês é o dia N, é verdade... e que já está tudo TUDÓ decorado e iluminado. Náuseas. É o que sinto. Náuseas. Mas o doutor não me vai deixar ficar mal e vai dar-me colinho antes da depressão sazonal sequer se aproximar dos meus neurónios guerreiros.
Agora vou voltar ao trabalho está bem?
Beijos na boca.


*momento imensamente lúdico no vermelho devagarinho (oba oba)*
Curiosidade que ninguém sabe sobre mim (coisas do fei sbuc oh meu deus oh meus deus):
Apenas uma destas cinco coisas me dá vontade de rir. Qual é?
1. comunicar a alguém que alguém morreu
2. pessoas a cair
3. alguém muito mal vestido
4. cócegas nos pés
5. mentir

8 de novembro de 2009

postais de natal

A minha amiga Raquelita (minha bruxinha adorada cá beijinho ai que saudades) fez uns postais de Natal que quase me fizeram chorar de tão lindos que são. Babo-me de orgulho...
Tenho a honra de os pôr à venda aqui!

clicar na imagem para ampliar

Conjunto de 5 postais + envelopes | 10x15cm
preço: €6 (inclui portes de envio)

Para comprar basta contactar a autora através do email
rfelgueiras@gmail.com

30 de outubro de 2009

my heart beats too loud*

Andei tanto tempo apagada, quase extinta.
Agora não caibo em mim.
Não é justo ter de se conter as coisas boas que se sente. Não é. O meu coração às vezes bate tão alto que se torna ensurdecedor. Não posso, não consigo fingir que não o ouço.
Não dou nome às coisas que sinto, só sei que as sinto intensamente. Cheguei a pensar que seria realmente bipolar. Porque já me vi tão intensamente no outro lado. Mas quando o médico me perguntou se eu pensava em pôr um fim a isto, até eu fiquei chocada.

A verdade é que eu sinto coisas boas, na maioria das vezes. Ora, estatisticamente, eu não passo de uma pessoa feliz. Sincera e desavergonhada.
Não caibo em mim.

É por isso que eu vou para a Guiné. O meu pai vai ter um ataque. Mas tem de ser. Por mim.
Não tenho muito juízo, não tenho dinheiro e às vezes não tenho norte. Mas no dia em que vi aqueles bebés todos de braços estendidos para o ar, a competirem por aquilo que a mim me sobra, tive a certeza de que existe pelo menos um lugar na Terra onde eu não serei mal interpretada.

*

28 de outubro de 2009

algures na selva


A savana e a floresta tropical só se cruzam na fantasia, não é?... Se até eu fico confusa, imagino as crianças.
A não ser que façamos por investigar, somos permanentemente aldrabados acerca da vida dos outros animais. Depois é natural que ninguém se choque ao ver elefantes em contacto com cimento, chimpanzés em contacto com grades e golfinhos em contacto com vidro. Mas isso ficará para um dos meus posts mega-vegetarianos-ultra-radicais-e-super-moralistas... ou não.

Eu decidi que nunca mais iria a um jardim zoológico, quando era ainda pequena. Tinha talvez 12 anos. Estávamos no Zoo de Lisboa e eu fiquei muito tempo a olhar para os olhos dum gorila. E ele para os meus. Também dei de comer a um tucano através da rede que o separava de mim. Achei que dar amendoins e bolachas aos animais me faria sentir melhor. Mas nada me aliviou tanto como ver-me dali para fora. E não, obrigada, eu não quero visitar o novo zoo de lisboa. Não por enquanto.

O conceito de selva em que todas as espécies se reunem é muito humano. Mas gosto dele. Algures nos livros, nos filmes, nas salas de aula, nos sonhos, nas pinturas. Onde toda a informação se cruza e (nos) confunde. Algures, muito longe da verdade, os animais juntam-se e riem-se. Felizes em comunhão uns com os outros e, já agora, connosco também.

Algures, no quarto dum bebé de um mês e meio. Que se riu para mim com todas as gengivas que tem.
:)

antes

liana

à espreita

cucu

27 de outubro de 2009

di, o retiro foi assim:

A Mãezé apertou o cerco e eu acabei por me render. Já antes tinha insistido comigo para ir, que era tão bom, que eu ia adorar, que ela gostou tanto e se lembrou tanto de mim, que a comida era toda vegetariana, que as pessoas isto e a filosofia aquilo. Mas eu não fui. Não conseguia ver-me lá. Não conseguia ver-me em mais lado nenhum para além do fosso que cavei.

Há uns meses começou "temos retiro em Outubro" e, com a proximidade da data, foi repetindo com falinhas mansas "não te esqueças que no fim-de-semana de 9, 10 e 11 é o retiro", sem admitir um não como resposta mas ao mesmo tempo sabendo que a mal ninguém me leva a lado nenhum. Amansou como só ela (e tu também...) sabe amansar o bicho ferido que eu tinha aqui dentro. A minha mãe é pequenina e eu sou grande, mas não há colo como o dela.

Fomos. O retiro era um retiro de silêncio, num espaço chamado 4Ventos, em Mafra. Era isto que eu sabia, e pouco mais. Que estaríamos caladas e que haveria meditação. Tenho aprendido que quando a expectativa é zero, a satisfação é garantida. Tudo o que se seguiu veio como uma bênção.

Se falámos? Sim. Se falámos muito? Não.
Falávamos quando nos era permitido. Para partilhar o que sentíamos após cada meditação, para colocar alguma questão, para fazer mantras, para cantar, para agradecer às cozinheiras pela comida e para rir. Rir muito. De resto, o silêncio. O poder do silêncio. Silêncio entre desconhecidos. Sorrisos, gestos, desviares de olhos, tristezas, alegrias, dúvidas, inseguranças e muitas personalidades a virem ao de cima. Em silêncio, pareceu-me que éramos todos transparentes. Para o bem e para o mal. Nunca pensei.

Acordar num sítio como aquela casa, rodeada de pessoas de todas as idades, cores e feitios, e todas, todas em silêncio... Lavar os dentes ao lado dum senhor que faz a barba. Fazer fila para a casa de banho. Cruzar-me com senhoras enroladas na toalha. Tudo em silêncio. Saber que não teria de dizer bom dia sequer. Não esperar nada. Ninguém me dirigiria a palavra. Só olhares e sorrisos cúmplices. Não haveria desbloqueadores de conversa, não haveria constrangimentos.

As refeições em silêncio. Também era um momento de meditação, o de comer. Observar a comida, primeiro no prato e depois na minha boca e depois no meu corpo. Surpreendente. Ficava cheia em menos de nada. Pensei que seria super constrangedor ouvir só talheres e um ou outro alarve a mastigar de boca aberta. Ahahaha! Nada. Não me lembro sequer de ouvir talheres, nem de observar os outros a comer. Quando vi que havia papa de aveia ao pequeno almoço fui para o céu com os pequenos póneis. E bebi imenso café. Uma delícia, Didi.

Das muitas actividades que fizemos e meditações que experimentámos (umas mais e outras menos bem conseguidas - houve momentos em que simplesmente nem consegui manter os olhos fechados, mas tudo bem), houve uma coisa que me marcou. A orientadora estava a falar. Nós ficávamos confortavelmente sentados cada um no seu colchão, com almofadas e mantas. Chá ou água e folhas e caneta para apontamentos. A sala era linda. Chão e tecto em madeira, luzinhas, muitas janelas e uma lareira com recuperador de calor. Mas não estava acesa.
De repente ouve-se um barulhinho e um movimento estranho dentro da lareira. Tinha acabado de descer pela chaminé e aterrado ali dentro um passarinho. Nesse momento quebrou-se o silêncio. Primeiro houve quem apontasse, mas depois falou-se mesmo. "Um pássaro, está um pássaro dentro da lareira!" O tubo da chaminé era tão longo. Que viagem horrível o bicho deve ter feito até finalmente parar e ver novamente luz.

Ninguém se levantou tão rapidamente quanto eu. Foi-me impossível não me identificar imediatamente com aquele pássaro. O susto e o medo de atravessar um túnel escuro, a queda no desconhecido, as asas que não lhe valiam de nada. A prisão em que ficou, o ecrã através do qual via a vida que teve e de que gostava, inacessível. E os sons e a luz toldados. E nenhuma possibilidade de se ver dali para fora. Não sem ajuda.
Quando me aproximei do vidro ele começou a esvoaçar. Via-nos e via a sala e as janelas mas não via saída. Alguém disse para simplesmente abrir a porta da lareira que ele daria logo com a janela aberta. Esta gente não tem gatos siameses, pensei. Quantas vezes já vi passarinhos tão aterrorizados de se verem dentro duma casa que a última coisa que conseguem fazer é rumar à janela aberta...
Abri a porta só um bocadinho. Ele entrou em pânico quando viu a minha mão a aproximar-se para o apanhar. A multidão que deveria meditar em silêncio sofria e gemia e suspirava. Ele resistiu até que o entalei e o agarrei pelas patinhas. Depois veio o melhor. Fui lá fora. A paisagem de Mafra era o azul do amanhecer e as árvores. Mais nada. Ar puro e céu aberto. Silêncio.

Abri as mãos e ele nem hesitou. Voou até o perder de vista.

Obrigada, Mamã.

26 de outubro de 2009

luzboa

A Rita levou-me por Lisboa fora. Que privilégio, ser guiada durante horas por uma alfacinha de Artes que gosta de se rir tanto quanto eu. Andámos quilómetros e só vimos coisas bonitas. Tudo tão lindo. Se os meus neurónios tivessem jeito para nomes eu agora dizia em que ruas e largos e edifícios estivemos, porque são mesmo conhecidos.

Entrámos em várias igrejas. Nunca devo ter estado tão espiritual como estou hoje em dia. O meu sentido crítico em relação às religiões em geral e à fé católica em particular dissipou-se. Não tenho tempo nem paciência para questionar as questões e a fé dos outros. Não tenho moral, aliás, porque eu acredito que os animais vão para o céu. Ponto.

A igreja de S. Domingos deixou-me sem ar. Precisei de me sentar. Acho que se tivesse ficado de pé chorava um bocadinho. A Rita entendeu que eu precisava daquilo. Inspirei e expirei consciente, muitas vezes. Deve ser o que muitas pessoas sentem quando rezam. Um reconforto. Um está tudo bem.

Obrigada, Rita.

À saída havia fila para a ginjinha e castanhas assadas a €2. Fizemos tchintchin com os copinhos de plástico e concordámos: A vida é muito boa e nós merecemos. O senhor da ginjinha perguntou se era com ou sem fruta. E eu "Hã?", a Rita "Não", eu "É bom?" e o senhor nem me deu tempo. Lá vai uma ginjinha para o fundo do meu copinho. E eu tudo bem, que é só um item na lista de milhões e milhões de coisas que eu ainda não fiz antes de morrer. A ginjinha é uma azeitona doce. Gostei. A meio das castanhas assadas já eu estava bêbeda. Rimo-nos muito muito muito. Já era de noite e eu ainda viria a riscar mais um item da lista.

Comer pastéis de Belém.

Um orgasmo digestivo. Como é que se vive vinte e sete anos sem pastéis de Belém?! Doutor, descobri, afinal não era depressão, doutor...

Depois o mosteiro dos Jerónimos.
Quem me dera ver o que há dentro do túmulo do Camões... Adorei o facto de na escultura, em que ele está tão bonito e sereno, o olho direito estar descoberto. Está fechado mas é diferente do esquerdo. A pálpebra tem menos volume.
Espero que o Luís de Camões se tenha sentido tão feliz como eu, em Lisboa. Ele merece.

25 de outubro de 2009

querido continente (continuação) III

Golpe baixo, Continente.
Não percebo como pudeste ir tão longe.
Por causa duns cereais, porra?
Ele não tem culpa de ser melhor que tu.
Olha, se queres saber, eu adoro os teus crepes com chocolate! Não há iguais...

Agora faz o favor de retirar aquela música hedionda das rádios e televisões, que já toda a gente acredita que é mesmo do Pingo Doce.

24 de outubro de 2009

happy birth day

Quando me vi sentada na frente do neurologista a chorar, já vergada sobre a mesa, pensei que aquilo não era de todo o que eu estava à espera de fazer e dizer num consultório. Achava que me iria comportar minimamente bem. Mas eu tinha um pedido de ajuda a fazer. Disse-lhe coisas que nunca disse a ninguém. Ninguém. Ele tinha a voz dos colchões colunex. Ouviu-me como se não houvesse consultas a seguir e tivesse o resto do dia só para mim. Tive de aproveitar.

Disse-lhe do bicho que me engoliu. De como eu andava e parecia que não era eu. Era levada, engolida, estava dentro do bicho. Ouvia os passos mas não era eu que os dava. Via as pessoas mas não via nitidamente. E os sons estavam todos abafados. Ele tomava notas e às vezes acenava. Disse-lhe que uso imagens... Que estava como que num poço. As pessoas e a minha vida lá em cima, e o céu azul e a luz. Às vezes via-me mais perto da superfície, mas nunca capaz de sair.

"E tem vindo a isolar-se?" - perguntou. E eu comecei a chorar outra vez. "Sim. Muito."
E lembrei-me da minha Carlita e do Hugo e da Vânia, e dos amigos deles que me enchem de mimos e me dizem coisas tão queridas. E me convidam a toda a hora para sair. E eu no fundo do poço. Já sem unhas...
Todos os convites e todo o contacto com pessoas me ardiam. Como uma luz muito intensa ao acordar. Ardia por dentro e por fora. "Então como estás? Que fazes?" Cheguei ao ponto de deixar de olhar as pessoas nos olhos. Ardia. A minha mãe encontrou-me em casa, já eu estava a ficar demente. Já nem falar. Já nem pensar. Nem acalmá-la. Dizer-lhe que só estava cansada.

Passei por momentos de não suportar sons, nem luz. Nem conversas, nem raciocínios. Perguntas, nem pensar. Como podia eu querer pintar? Que tonta. Depois veio a medicação, que veio como um ácido por mim adentro. Todos os dias dizia, com as caixas na mão: Os meus remédios fazem-me bem. Os meus químicos. Gosto deles. E dava um beijo numa das caixas. Passei mais de duas semanas com náuseas. Às vezes lutava para não vomitar. De resto eram os picos de humor, esses momentos assustadores em que me ria às gargalhadas e brincava, para depois tudo voltar a arder muito, e eu precisar de me enroscar toda sobre mim mesma novamente. E não vomitar. Manter os químicos cá dentro. Fazem-me bem e eu gosto deles.

Estava no Algarve com a Di, na esplanada, a ler uma revista qualquer. Foi nesse momento, com um café e uma sobremesa, que eu senti qualquer coisa a percorrer-me o corpo. Já não era o bicho. Era mesmo eu a sentir. No meu corpo. Disse-lhe "Acabo de me sentir muito, muito bem."
"Isso é bom", disse a minha enfermeira. Ela sabia que eu ainda tinha muito que me debater até me ver livre do bicho. Aquilo era só eu a tentar respirar pela primeira vez, recém-nascida. Exausta. Mas bem.

O psiquiatra convenceu-me de que ter pensamentos horríveis não faz mal nenhum. É deixá-los passar. Aceitar e deixar passar. São só pensamentos. Assim faço, todos os dias. Também me disse que desconfiava que eu ia ficar ainda melhor, quando eu lhe disse que estava muito bem. Achei que isso já era ser muito ambicioso, mas se ele é dos melhores e eu sou a pessoa doente, resta-me acreditar e ficar caladinha.

Tinha razão.
Agora eu estou em carne viva. O bicho foi-se. Nem vê-lo. A minha pele é a única coisa que me separa do mundo exterior. Os meus sentidos são meus. Os meus passos são meus e eu ando depressa, no meio das pessoas. É para isso que só uso sapatilhas. Não há tempo a perder. Ouço e vejo perfeitamente. E tudo me emociona, como se sentisse - e sinto - as coisas pela primeira vez, depois de muito muito tempo.

23 de outubro de 2009

lisboa

Uma semana em Lisboa. Adoro tudo. Tudo. O trânsito caótico, a poluição, as multidões, o ritmo acelerado que me embala. Adoro a inércia do rebanho. Lá vou eu sem pressa no meio das pessoas que correm loucas.

Estou sensível a tudo. Estou em carne viva. Até do metro eu gosto. Das pessoas todas. A porcaria da gripe A é um mito. Não querem que a gente se toque. Querem que sintamos muito, muito medo. A maior infecção de todas é a indiferença.
No metro até as pessoas todas apertadas me agradam. Uma vez fui apalpada no metro e detestei. Mas foi ao final do dia e já estava exausta e as pessoas já cheiravam mal. Às oito da manhã as pessoas cheiram bem. Hoje éramos tantos. A minha mão e outras seis ou sete mãos agarradas ao varão no meio da carruagem. Sou mais alta que a maioria das pessoas. O meu pulso colado à cara dum homem que ouvia uma música ensurdecedora. Ainda bem que pus perfume nos pulsos, pensei. Agora ele ouve música pesada aos altos berros e cheira o meu pulso que cheira mesmo bem. No metro joga-se a um jogo de que todos sabem as regras. Chama-se Quanto-tempo-consigo-ficar-sem-olhar-nos-olhos-da-pessoa-que-tenho-a-três-centímetros-de-mim.

Sinto-me profundamente feliz. Hoje chorei de felicidade. Tudo me parece bem. Até a chuva e as minhas calças encharcadas até à canela.
No metro vou a olhar lá para fora e o lá fora é só tudo preto e o reflexo do que se passa dentro da carruagem. Pelo reflexo há quem quebre as regras do jogo. Eu fixo-me na próxima paragem. Porque quando estamos a chegar a Roma, o reflexo é amoR. E eu não posso perder esse momento da linha verde, no metro de Lisboa.

15 de outubro de 2009

sabem o que é mesmo bonito?

E me deixa profundamente feliz?
É que uma potencial cliente me contacte a pedir informações e orçamentos por recomendação de outro pintor que eu nem sequer conheço. Foi o que me aconteceu ontem. O Atelier Pintarte recomendou o meu trabalho a uma senhora que pretende uma pintura muito específica, que talvez eu consiga executar.

Nem tenho palavras. Só posso agradecer muito muito muito e retribuir a publicidade. Isto compensa todos os episódios de plágio e gracinhas semelhantes que me aconteceram recentemente.
Beijos beijos beijos!

pintura de quartos de bebé e criança - Açores

Gente gente, atençom!

Pretendo passar o mês de Dezembro nos Açores.

A pintar, claro está.

É espalhar a notícia faz favor!

S. Miguel aqui vou iêue!

14 de outubro de 2009

o melhor do mundo são os velhinhos

Avó e neta, mais uma vez à mesa. Mais uma vez pedem anonimato. E a gente respeita.

- Vais fazer 28 anos não é?
- Sim...
- Eu com 28 anos já era casada e estava grávida.
- Olha que bem.
- E tu nem namorado tens.
- Que desprezo é esse no teu tom de voz?!
- Não é desprezo! É pena...
- Devias era preocupar-te com a minha felicidade, isso sim. Perguntar-me se sou feliz.
- E és feliz? Sem namorado?!
- Claro que sou!
- ...
- ...

juro que a intenção é a melhor

É verdade que em Lisboa não se diz palavrões como cá em cima? Tipo... entre amigos? Em casa ou no café, quando se está à vontade? Por favor alguém de Lisboa me esclareça.
É verdade que um "filho da puta" em Lisboa pode chocar os mais susceptíveis? E um "foda-se caralho" quando a pessoa se queima ou entala um dedo ou vê a conta da luz? Não é costume?...
Então o que é que se diz?
Diacho?

Estou fod... estou lixada.

7 de outubro de 2009

posts em rascunho: 06/02/2009

às vezes lembro-me de coisas

Eu e a Carlita tínhamos gravura na faculdade. Acho que toda a gente devia experimentar fazer gravura, é tão interessante... e acredito que exercita imenso o cérebro.
Então. Saíamos da oficina com as mãos imundas. As unhas pretas, apesar do diluente, do gel tira-nódoas, do sabão, da água, da escovinha. Às oito horas da noite íamos para casa cozinhar e comer e rir muito (uma das melhores coisas que me aconteceram na vida: morar com alguém que se ri tanto quanto eu). Antes passávamos pelo supermercado Tomita, ao lado do café Cifrão. Tenho esta imagem das minhas mãos sujas em contacto com as da menina da caixa, de pensar no que ela pensaria.
Com o passar dos dias a tinta ia desaparecendo (íamos quase todos os dias ao Tomita da Rodrigues de Freitas), até à aula seguinte.
Foram meses com as unhas pretas. Que saudades.

6 de outubro de 2009

querido continente (continuação) II

Os Bran Flakes do Pingo Doce custam €1,49.
Temos vencedor, querido Continente.
Lamento...
Não te preocupes com o meu intestino, ele sobreviverá sem ti.

Foi bom enquanto durou. E não digas que não te dei oportunidades.
Beijinhos,
Nat

Mas quando puder compro do teu leitinho de soja, que é ao mesmo preço do dele, está bem?

4 de outubro de 2009

do cérebro

Quando cheguei ao 9º ano não sabia bem o que queria ser. Queria ser cirurgiã plástica. Reconstruir caras e corpos estropiados. Ou então pintora.
A psicóloga a que a minha mãe me levou analisou os resultados dos testes e disse, sem hesitar, "temos artista".

Eu não gosto de matemática. Tenho horror a química. Física é gira por causa da inércia e do movimento uniformemente acelerado (sempre gostei de imaginar coisas em queda livre) e das forças centrífugas e... mais nada. Organização e pensamento abstracto? Zero. Cálculo mental? Zero. Estudar coisas que me parecem inúteis? Zero. Memorizar tabelas e símbolos e nomes estranhos? Zero. Mas para decorar a letra e melodia de uma música pimba à primeira contem comigo.

Adiante. Quando uma psicóloga nos "diz" que o caminho a seguir é o caminho que nos parece mais fácil, segue-se em frente sem se olhar para trás. Foi o que eu fiz. Adeus ciências exactas e pensamento abstracto, adeus horas de estudo e exercícios estúpidos estúpidos estúpidos (seno traço fracção xis igual a ípsilon mais fórmula resolvente fechar parêntesis - e é escusado apedrejarem-me, a minha adorada mãe é professora de matemática e gosta de mim apesar disto). Olá vintes a geometria descritiva, visualização no espaço, uso da imaginação, desenho, pintura e história da arte. Um mar de rosas.
O facto de ter reprovado a Desenho mal cheguei à faculdade foi um aviso a que não prestei atenção. Estava habituada a ouvir aaaaaahs desde a primeira classe sempre que fazia um rabisco. Alguma armadilha me haveria de surgir no caminho luminoso e verdejante que a psicóloga me indicou. Ou, no mínimo, alguma surpresa me esperaria no final do caminho.
O meu cérebro pifou.
Acabei sentada em frente a um psiquiatra. Que não me indica caminhos. Ensina-me a pôr tudo em causa. Diz-me que os meus pensamentos mais assustadores não passam de ideias disparatadas. Que as pessoas criativas são mesmo assim, têm mais ideias que a maioria das pessoas e também acreditam mais facilmente naquilo que os seus cérebros produzem. Diz uma e outra vez, para que eu não me esqueça. Diz-me que mude de estratégia, de caminho, se necessário for. E eu adoro esta nova visão. Esta busca de um novo norte. Começo a ficar cada vez mais fascinada por aquilo que o meu cérebro (e suas patologias) me tem ensinado. Chego a pensar em tirar outra licenciatura, quem sabe, um dia. Qualquer coisa que me aproxime ainda mais da mente e do comportamento humanos. Qualquer coisa que (eu sei eu sei não digam!) passe por estudar física, química e matemática.

Quase "recuperada" mas ainda muito dependente do comprimido mágico e do senhor de barba que ridiculariza os meus dramas, vejo-me livre. Livre de todos os pesos com que me fui carregando ao longo dos anos. Tão livre e leve que chego a prever onde me levam os caminhos, de uma perspectiva aérea, privilegiada. Com uma confiança e optimismo quase irresponsáveis.



PS: hoje sonhei com uma gaivota.

3 de outubro de 2009

posts em rascunho: 26/04/2009

do humor negro

Quando o gato foi atropelado em frente a casa e se arrastou e morreu no passeio, ficou lá a mancha de sangue. Os trajectos desenhados na estrada. O do carro que seguiu caminho e o do gato que ficou a uns metros. Tanto sangue. Escondi o corpo e decidi contar à minha mãe só na manhã seguinte. Madruguei, para garantir que ela não veria a estrada naquele estado. Aproximei-me dela, segurei-lhe os dois braços e disse, sem conseguir parar de chorar:
"Aconteceu uma coisa."

Depois peguei num balde com água, numa vassoura e no Blanka Oxi Action e fui lavar a estrada. E enquanto me desviava dum carro que passava e via a espuma vermelha a descer a rua, disse para mim mesma:

Isto sim dava um anúncio. Este detergente é mesmo bom.

posts em rascunho: 21/06/2009

cacos

Há dias vi-me numa cena típica de desenho animado. Tom & Jerry talvez... Quando uma pilha de louça se desmorona e as peças voam em várias direcções, numa cascata elástica que desafia as leis da física do mundo real. E a personagem, num esforço sobrenatural, consegue amparar-lhes a queda. Usa as mãos, os pés, a boca, a cauda para agarrar a última chaveninha a um centímetro do chão.

Tive esta visão. Eu era a personagem e a louça eram os outros, os problemas dos outros, a vida dos outros, as lágrimas, as necessidades dos outros.
A amortecer-lhes a queda e a impedir o pior, lá estava eu, no meio do chão. Estatelada.

posts em rascunho: 11/06/2009

hoje ia ao volante e pensei

... enquanto esfregava o braço em busca de imperfeições. Isto do tempo quente obriga-nos a expor as carnes que normalmente andam escondidas. E expô-las ao olhar dos outros traz muitas vezes baixas de auto-estima, independentemente de quem sejam os outros e independentemente da atenção com que nos olham. Pensei:
Que bom seria se alguém gostasse das imperfeições da minha pele. Então parei de esfregar o braço e em vez disso afaguei-o. O meu braço direito, gosto tanto dele, para quê procurar-lhe irregularidades epidérmicas? Que bom seria se alguém me tratasse mesmo bem, incondicionalmente. Me acarinhasse e me sorrisse, independentemente do humor com que acordo, dos números na roupa e na balança, das crises existenciais (e já agora do penteado) na cabeça, da celulite exposta ao sol (e aos olhos dos outros) e, acima de tudo, independentemente dos meus erros. Seria tão bom que existisse alguém que me tratasse bem e me tolerasse, acima de tudo e de qualquer falha minha. Então pensei:
Essa pessoa posso ser eu.
E fiz mais festinhas no meu braço direito.

1 de outubro de 2009

29 de setembro de 2009

ai c'agradável

Ainda estou em estado de choque.
Eu e mi primi estávamos no carro a ter uma das nossas conversas sérias. Nós ou temos conversas muito sérias ou conversas muito parvas, já reparaste mi primi? Eu falava falava falava, o semáforo ficou vermelho, mi primi abrandou, parou, eu continuei a falar sobre o assunto sério e de repente só ouço uma explosão e sinto o meu corpo a ser abanado como se de um bonequinho de trapos se tratasse. Caixas de CDs a voarem e a partirem-se, as minhas palavras a darem lugar a um grito* e os meus dentes a baterem violentamente. Abri os olhos e ainda demorei um bocado até perceber que tínhamos um jipe enfiado pelo nosso carro adentro. Um jipe que vinha a, vá lá, vinte, no máximo trinta km por hora e me fez tomar uma decisão para o resto da vida:

Pessoa que andar comigo, seja no meu carro, seja no próprio carro, seja em que assento for e independentemente da duração da viagem ou da velocidade a que formos,

VAI DE CINTO DE SEGURANÇA POSTO.

Nós estávamos paradas. Quietinhas e inocentes.
O jipe ficou intacto.
O miprimi mobile ficou com o porta-bagagens todo metido para dentro.
As nossas caras não estão metidas para dentro também porque obviamente tínhamos o cinto posto.

Fiquei a pensar na quantidade de pessoas que conheço (incluindo eu própria, ainda que raramente) que não usam o cinto de segurança atrás.

Obrigada, senhor iluminado. Obrigada obrigada obrigada, que só quase arranquei a minha própria língua à dentada e fracturei uma clavícula e fiquei sem uma mama e esmaguei o esterno. Mas estou biba! Cá beijinho, senhor inventor do cinto que salvou esta minha carinha laroca.

* o grito foi uma espécie de balido. Em duas palavras: ri dículo.

Depois da declaração amigável estar feita e os tremeliques terem acabado, passámos o resto da viagem numa conversa parva sobre o senhor que conduzia o jipe: a sua atitude correcta e amigável, a sua amigável aparência física, estado civil, profissão, local de trabalho, número de telefone, trocadilhos obscenos sobre a posição relativa das viaturas... enfim. As conversas que as pessoas acidentadas têm habitualmente.



(Amanhã dou notícias da minha caixa torácica.)

28 de setembro de 2009

estão abertas as inscrições

... para o concurso sou pintor e tenho uma grande lata!!!

Ontem fui avisada por uma colega chamada Sandra Colaço de que isto estava a acontecer. Vede, vede com vossos próprios olhos. VEDE! Esta aldrabona sim, foi mais inteligente do que outros que andam por aí e apagou a assinatura da foto como deve ser. E provavelmente achou que nunca seria apanhada.

Sandra, muito obrigada. Escusado será dizer que sempre que eu me aperceber de que algum espertinho anda a fazer o mesmo com o teu trabalho, ponho a boca no trombone. Assim como fiz em relação ao Paulo Galindro.

Vamos deixar um comentariozinho à pintora The Art Dream? Eu já deixei o meu. A ver quanto tempo dura...

Muito obrigada a todos pelo apoio.

25 de setembro de 2009

actualização

O senhor cujo trabalho publicitei ali em baixo telefonou-me. Não quer que eu lhe faça link e sente-se profundamente caluniado. Também quer que eu desminta o que disse sobre ele e que as minhas amigas parem de o insultar porque afinal ele não é nada do que me disse ser, nunca teve intenção de plagiar o meu trabalho, pediu desculpa e até aproveitou para me dar umas dicas de desenho.
Concluindo, eu errei. Errei tanto que hoje nem vou dormir bem. E como os meus extraordinários poderes telepático-hipnotizantes levaram o senhor a fazer e dizer tudo o que fez e disse, agora tenho a obrigação de me retractar.

...

...

...

Vou só ali retirar o link e rir-me mais um bocadinho.

24 de setembro de 2009

london ou mai god

Ingredientes para umas férias divertidíssimas em Londres:

Companhia louca e bem humorada;
Dinheiro suficiente apenas para comer barato mas bem;
Sapatilhas ultra confortáveis com bolsa de ar na sola e palmilhas de silicione à prova de impacto;
Máquina fotográfica;
Mapa da cidade;
Muita facilidade em dirigir a palavra (em inglês) a desconhecidos;
Pouca vergonha na cara;
Ter como objectivo ver apenas o Big Ben, a London Bridge e, claro, um esquilo.
Acreditar que tudo o que vier para além disto é uma dádiva dos céus e de sua majestade a rainha. O que inclui degraus, bancos de jardim, relvados limpos e esplanadas para sentar e fazer alongamentos, tap water, entradas gratuitas em museus e o Chris Martin a cantar a dois quilómetros da nossa vista (já tinha mencionado o facto de o Chris medir um centímetro e meio? Coisa mais fofa!).
Um dia ponho aqui as fotos. Agora vou pintar.

Avé psipax cheio de fluoxetina,
Um copo de água convosco,
Bendito sois vós entre as massas cinzentas,
Bendito é o fruto da vossa toma diária - bom humor.

Calar-me-ei para não ser acusada de blasfémia. É só para dizer que estou cheia de energia e me sinto muito muito muito bem.

23 de setembro de 2009

momento publicitário sado-maso-surreal

Já conversei com o senhor que faz as minhas pinturas melhor que eu própria. Já lhe disse que não estou interessada nos serviços dele, que me chamo Natachinha e que o número com que lhe estava a telefonar é o que está escarrapachado no site que assina as fotos que ele, ingenuamente, enviou à potencial cliente.
Também lhe disse outras coisas menos agradáveis de se ouvir, por isso ele acabou por me dizer que eu tinha era inveja dele. Ora, em forma de agradecimento, deixo aqui o contacto do senhor. Meus caros, é ligar-lhe e pedir as pinturas enquanto a agenda está livre! Ele diz que é de confiança e que faz um bom trabalho. E mostra-se mais disponível do que eu para negociar preços.
Bom trabalho, meu rico colega.

pois que fui a londres

É verdade, fui arejar os neurónios sobreviventes.

Há uns meses a Andreia (com quem andei na escola entre os 10 e os 15 anos) comentou comigo este vídeo do meu amado Chris porque também a fez rir muito. E aproveitou para (ó Andreia obrigada obrigada obrigada), décadas depois de nos termos visto pela última vez, me convidar para ir ver os Coldplay a Wembley. Assim ah e tal se quiseres ficas a dormir aqui em casa. Eu comentei isso com o meu irmão, que não tem mais nada, compra uma data de bilhetes e leva-nos (sim, um grupo de cinco pessoas apanhadas da mona) a Londres.
Ora eu, se não tivesse amigas em Londres e um irmão que me pagou metade das despesas, simplesmente não poderia ter ido. E teria perdido quatro dias de gargalhadas contínuas (ao ponto de eu, doutorada em riso, ter ficado com dores nas costelas ao final do segundo dia) e emoções fortes - tudo em inglês.
Antes de arranjar tempo para fazer um post decente sobre a viagem, aqui fica o meu agradecimento público ao Bruno Santos, que apesar do seu feitiozinho (Nataixa! Nataixa! Hum!) foi uma óptima companhia, assim como à Sari que também me hospedou e encheu de mimos e, claro, à Andreia. Se não fosses tu Andreia... já biste? Snif.
Beijos enormes também à Rita, à Rita, ao Mauro, ao Nuno, à Ju, à Mushi e ao Pastor. Foi uma pena não termos ficado mais uns dias. Londres está no meu coração.
E a Starbucks também.

22 de setembro de 2009

contado ninguém acredita

Comecei hoje a pintar um quarto cá em Viana. A cliente, amorosa, contou-me que um outro pintor a quem pediu informações lhe enviou fotos das minhas pinturas como sendo exemplos do que ele faz.

Ora lá vou eu fazer-me de cliente também, não é? E telefono ao senhor, e digo que quero as ovelhinhas e o barco com os animais. Diz que faz sem problema. Pergunto se são dele. Diz que sim. Pergunto outra vez. Diz que são de um amigo. Pergunto se faz igual. Diz que faz até melhor. E ri-se. Diz que faz qualquer imagem, qualquer cópia, sem problemas. Que é só escolher. Eu faço aham. Aham. Que quero ver fotos da cópia. Que não tem aqui mas que eu não me preocupe, que já fez várias vezes. Pergunto quem é o amigo que fez a pintura original. Diz-me um nome de homem, mas que não está cá. Mas que ele faz. E até me envia o desenho igual por correio, para eu ficar mais segura.






Bendito prozac. Louvado seja. Bendito e abençoado seja entre os meus neurónios.

14 de setembro de 2009

outro

Mais um desta série. Parece que estou preparada para deixar partir alguns dos meus quadros mais queridos.

Este foi o último trabalho que fiz após cinco anos de Desenho na faculdade.
Eu reprovei no primeiro ano de Desenho. Tive um 9. É irónico... em dezassete anos de escola, reprovei a uma única disciplina. Físico-química? Matemática? Não. Àquela em que aprendi e explorei aquilo que é hoje o que mais gosto de fazer. Desenhar.


pormenor

Trabalhei exaustivamente a cara da Nhocas. Desenhava e apagava, desenhava e apagava, até me cansar. Já me sentia capaz de a desenhar de memória, então a necessidade de apagar o que tinha levado minutos ou horas a fazer já não me assustava. Pelo contrário. O acto de apagar tornou-se uma forma de expressão tão importante como o de riscar. Pude assim concentrar-me muito mais na importância do suporte - a colagem - e do espaço vazio na composição. Há coisas que só se aprende fazendo e repetindo dezenas de vezes.
Lembro-me que neste quadro o retrato esteve "concluído". Todos os pormenores da cara definidos. A orelha e parte do cabelo também. Depois peguei na borracha e apaguei sem medo (fascina-me a ideia de olhar para um papel em branco sabendo que já lá esteve gravado um desenho demorado - pois), até ao momento em que me senti confortável. Dei-o por terminado. Mas quando me apercebi do que restara pensei: Apaguei quase tudo. O professor vai matar-me.

Na avaliação final destes meus trabalhos o professor (ironicamente, o mesmo que me reprovou quatro anos antes) parou de falar quando olhou para este. Eu congelei por dentro. E ele disse: "Este é o melhor."
Deu-me um 17. E eu suspirei de alívio e muito orgulho.

O "Autobiografia 2" está pronto a partir para outra casa que não a minha. Aqui.
:)

9 de setembro de 2009

e você, já abandonou um animal este ano?

Este era o Dunga. Tirei esta fotografia um dia depois de o encontrar moribundo no meio de lixo.
O Dunga sabia sentar, dar a pata, conter as necessidades para fazer na rua e não podia ver um carro de porta aberta, tentava imediatamente entrar.
Tinha um tumor num testículo, provavelmente provocado por um traumatismo (entenda-se pontapé bem dado).

Em vez de morrer no dia em que comecei a cuidar dele, morreu cerca de um ano (e muito mimo) depois. Gordinho e medicado.
Nunca perdoei os donos dele. Às vezes pergunto-me como serão essas pessoas. E se sabem usar a internet.

Para quem não viu este debate há uns meses, é espreitar a partir do minuto 17:00.

autobiografia

chão
Ando a (des)arrumar a casa. A quantidade de tralha que uma pessoa junta, meu deus. No meio da tralha estão alguns quadros que fiz na faculdade. Este tocou-me especialmente. Voltar a olhar para ele. Pertence a uma série intitulada "Autobiografia", feita nas cadeiras de Pintura e Desenho, inspirada no poema homónimo de António Gedeão.

Depois de uma depressão não se pode ler este poema com o mesmo tom. Assim como eu não posso ver este quadro com os mesmos olhos. Em 2004 tentei ilustrar aquilo que para mim, hoje, não precisa de ilustração, de explicação ou termos científicos. A doença (como o neurologista se lhe referiu) é um poço. E a pessoa doente cai algures dentro de si. Perde-se. Começa a apagar-se, a desaparecer, à medida que perde a consciência de si mesma e das fronteiras entre o que se passa por dentro dela e a realidade.
O mais assustador na depressão é o facto de poder ser invisível. Ninguém pode imaginar, até experimentar, o que é estar aparentemente presente. Conversar, ouvir, falar, comer. Tudo aparentemente, enquanto por dentro se vive um inferno.

pormenor

A minha modelo foi a Nhocas. Gostei tanto de reencontrar o quadro que decidi pô-lo à venda aqui. O poema é este:

Autobiografia


Enquanto comia
num gesto tranquilo,
comia e ouvia
falar-se daquilo.
Comia e ouvia
solicitamente,
como se presente
presente estaria.
E enquanto comia,
comia e ouvia,
a frágil menina
que no fundo habita,
que chora e que grita
saía de mim.
Saía de mim
correndo e chorando
num gesto revolto,
cabelinho solto,
roupa esvoaçando.
Ia como louca,
chorava e corria,
enquanto eu metia
comida na boca.
Fugia-lhe a estrada
debaixo dos pés,
a estrada pisada
que o luzeiro doira,
serpentina loira
que vai ter ao mar.
Corria a menina
de braços erguidos,
seus brancos vestidos
pareciam luar.
Por dentro ia a noite,
por fora ia o dia.
A vida estuava,
a maré subia.
Caiu a menina
na praia amarela,
logo um molho de algas
se apoderou dela.
Se apoderou dela
carinhosamente,
que as algas são gestos
mas não são de gente.
Caiu e ficou-se
deitada de bruços,
desfeita em soluços
sem forma nem lei.
Ó minha aguazinha
faz com que eu não sinta,
faz com que eu não minta,
faz que eu não odeie!
Aguazinha querida,
compromisso antigo,
dissolve-me a vida,
leva-me contigo.
Leva-me contigo
no berço das algas,
que o sal com que salgas
seja o meu vestido.
Ficou-se a menina
desfeita em soluços,
seu corpo, de bruços,
com o mar a cobri-lo,
enquanto eu, sentado,
sentado comia,
comia e ouvia,
falar-se daquilo.

António Gedeão

8 de setembro de 2009

não é que algum dia me vá esquecer disto

Mas tenho-o sentido e dito tantas vezes, que quero escrevê-lo também.
Eu conheço pessoas genuinamente boas. Pessoas maravilhosas. Não uma nem duas, várias. Tenho a felicidade - o privilégio - de as conhecer de perto, de poder passar minutos, horas com elas. De as olhar nos olhos, de as ouvir. Mesmo que se passem semanas de distância. Meses. Quando as vejo é isto. Eu não conheço. Eu tenho pessoas na minha vida que tornam tudo melhor e mais fácil, até as dores.
Como se isso não bastasse, e como se confiar-lhes o que tenho de melhor e de pior não fosse bom o suficiente, eu ainda sinto que elas gostam muito muito muito de mim.

Quando ouvi isto pela primeira vez não tive noção do quão verdadeiro é.

7 de setembro de 2009

estimada senhora minha mãe:

Venho por este meio informá-la de que o plano que tinha como objectivo destruir o sistema digestivo da sua própria filha foi concluído com sucesso.

Sim, a sua filha regou diariamente o pimenteiro bebé;
Sim, a sua filha viu o pimenteiro crescer, após litros e litros de água cuidadosamente colhida enquanto o seu banho aquecia;
Sim, o pimenteiro deu flores e a sua filha comoveu-se;
Sim, as abelhas acasalaram com o pimenteiro e ele deixou de ser virgem;
Sim, o pimenteiro deu lindos pimentinhos, que a sua filha viu crescer e continuou a regar dia após dia, litro após litro;
Sim, a sua filha decidiu, há momentos, comer os pimentinhos salteados em azeite e temperados com alho e sal;
Sim, a sua filha deu uma dentadinha em cada um dos pimentinhos, incrédula e lavada em lágrimas, à medida que os seus lábios e boca e língua e esófago pegavam fogo;
Sim, a sua filha tossiu desesperada e disse caralhinho várias vezes, sem ser no diminutivo e agora escreveu um palavrão no seu rico bloguezinho;
Sim, a sua filha não suporta neste momento a textura da própria saliva;
Sim, a sua filha empanturrou-se de pão para apagar o fogo;
Sim, a sua filha está saciada e por isso não vai aí jantar consigo.

Estamos entendidas, dona agricultora biológica? Acho bem.

casa de loucos

Em 2006, na casa dos meus pais, era disto todos os dias. Que saudades.



Boa semana! :)

6 de setembro de 2009

nee

Não querendo inflamar ninguém com o título do post (é que dizer deficiente ou qualquer coisa que sugira a-normalidade ofende muito as pessoas), NEE era o que me chamava um professor do ginásio, depois de tomar conhecimento desta minha nova condição. Ele brincava e eu ria-me, mas a verdade é que não só precisei de tempo para perceber que tinha uma coisa chamada condromalácia patelar em ambos os joelhos, como tive de aprender, com paciência e humildade, a viver com ela.

Ora, acho que finalmente processei a informação toda e me adaptei. Que fique registado este dia. Pelo caminho aprendi palavras novas como vasto interno, sulfato de glucosamina, mcconnel taping, viscosuplementação, crioterapia...
Embora as nee se mantenham, finjo que não. É que pelos vistos passam muito facilmente por teimosia. Olaré.

Isto tudo para dizer que apesar de não poder carregar pesos nem flectir as pernas vou fazer mudanças e arrastar móveis cá em casa. Tenho tantum creme e gelo. Para o caso de a brincadeira acabar mal.

5 de setembro de 2009

se eu fosse um bicho

... era uma gaivota. Costumo dizer isto porque as gaivotas vivem felizes só de ver o mar, comem montes de porcaria e voam muito alto quase sem esforço. Não são propriamente elegantes e dão gritos histéricos. Adoro-as.
Hoje fui caminhar com os cães de manhã cedo, à Praia Norte. Caminhámos uma hora e acabámos refastelados numa esplanada.
As gaivotas comovem-me. Ou estão a ver o mar dum ponto privilegiado, ou tomam banho nas pocinhas da maré baixa, ou vêem (como hoje) o nascer do sol, todas juntinhas, com os pés na areia molhada da foz.

Hoje, pela primeira vez em meses, tive a certeza de que o bem-estar não depende tanto de factores externos como eu acreditava. E a consciência disso libertou-me.
Senti-me muito, muito bem. E apanhei três cocós de cão.

4 de setembro de 2009

faço posts de um parágrafo e adoro

Fui ver o Sacanas sem Lei há mais de uma semana e continuo boquiaberta com o desempenho do Christoph Waltz. Ele não só conseguiu fazer com que eu me esquecesse do motivo (Brad Pitt) que me levou ao cinema naquele dia, como me fez fantasiar com beijos na boca a um coronel nazi. Sai um Oscar urgente para a mesa sete, faz favor!

3 de setembro de 2009

santa fluoxetina

É que leio estas notícias e nem choro!

2 de setembro de 2009

querido continente (continuação)

Já vi que baixaste os Fibra Flakes para €1,69. É um bom começo mas mesmo assim recuso-me a comprá-los. Continuo magoada, querido Continente. Muito magoada.


Se os baixares para €1,39 temos conversa. E ponho uma foto aqui no blog. Prometo.
Cá beijinho, Continente. Cá beijinho.

28 de agosto de 2009

não vamos negar o óbvio

Esta imagem está na Visão desta semana.
Eu costumo dizer que sou o meu pai com mamas e cabelo. Mas a verdade é que sou o Paul McCartney sem o bigode.

27 de agosto de 2009

auto ajuda

Tenho relido o meu blog. É chocante. A minha capacidade de adaptação ao cansaço desafia as leis da mãe natureza. Só agora consigo ver o óbvio. Andei a testar os meus limites durante anos. Não só os limites da minha força física, mental e emocional. Os limites do meu optimismo, da minha boa vontade e da minha auto-estima. É triste. Mas podia ter sido pior. Só admiti que não estava bem quando já não conseguia mexer-me.
Estava a pintar. Sei que esta minha forma confusa de expressão em que as metáforas se misturam com a realidade não ajuda mas agora é a sério. O pincel parecia pesar cinco quilos. Foi como se me dissessem para pintar com um garrafão cheio de água pendurado no pulso. O braço não resistia. A mão não se mantinha firme por mais de cinco segundos. A tinta parecia seca e a parede áspera. Começou a arder-me o ombro, depois o cotovelo e por fim a mão. Ainda repeti este processo doloroso uma e outra vez, incrédula, a tentar recordar o que teria feito no dia anterior para me estar a sentir assim, que nunca tinha sentido aquilo, que coisa estranha, que eu normalmente pinto uma parede toda à trincha em menos de nada e carrego montes de tralha e nunca me doem os braços.
O peso estendeu-se para o resto do corpo. Agora eu estava a tentar pintar com um garrafão no pulso e um elefante às cavalitas. Sentei-me no chão, ofegante. Levantei-me e voltei a tentar. Nem cinco minutos aguentei. Não pode ser. O meu braço. A minha mão direita, o meu corpo. Vou deitar-me no chão só um bocadinho, isto já passa.
Deitada no chão, desisti. Olhei para a parede e senti-me completamente incapaz de a pintar. Tantos metros quadrados, uma infinidade de horas de trabalho pela frente e eu tão pequena, tipo mosca moribunda a tentar mexer-se.
Nem uma lágrima. A vontade de chorar andou-me presa na garganta durante meses. E foi assim, seca, que virei costas à parede e disse a mim mesma.
Estou doente.
Mente doente, corpo frágil. Os meus dois joelhos pifaram. O médico japonês, o ortopedista, o fisiatra e as fisioterapeutas fizeram a mesma cara quando lhes disse em que consiste o meu trabalho e quanto tempo fico de pé, e de joelhos, e no escadote, apesar das queixas que já vinha a apresentar. Levei os meus dois joelhos ao limite. É triste. Mas podia ter sido pior. Agora é gelo, fisioterapia, gelo. Nada de ginásios, nada de hiperflexão das pernas, que as cartilagens isto e as rótulas aquilo, que não sei quê artroses e que eu só tenho vinte e sete anos. Eu sempre soube que as pinturas em parede não durariam para sempre, nunca me pus foi essa possibilidade tão cedo. O terror de me ver sem trabalhar, sem acesso às minhas ferramentas essenciais - a minha mente e a minha mão - e ao dinheiro que elas me iam dando. Como se vai ao médico sem dinheiro? Houve meses de crise profunda. Os limites da minha esperança também foram testados. Como uma máquina que avaria, eu toda avariei. Agora lembrei-me do calgon. Há máquinas de lavar roupa mais estimadas que eu.
Tantas vezes neste blog escrevi a palavra cansada. Também muitas vezes escrevi a palavra limite. De cansaço já entendia alguma coisa, mas de limites muito pouco. É triste.
Mas podia ter sido pior.
Hoje terminei a pintura.

:)

Muito obrigada, Babá.

26 de agosto de 2009

24 de agosto de 2009

estávamos na esplanada

Se há coisa que faz bem ao cérebro é pasmar nas férias. Sem culpa. A medicação ajuda, assim como o sono em dia. Mas a despreocupação e o riso sinceros fazem milagres. Eu sou uma felizarda. Tenho pessoas na vida que me enchem de riso, de festinhas, de palavras. Que me fazem sentir leve e solta e confiante como se só coisas boas estivessem para acontecer e eu pudesse fechar os olhos.

Estávamos na esplanada. O sol do Algarve queima, o ar é doce e as pessoas falam no gerúndio. Estar sentada a preguiçar de pés descalços na cadeira da frente, com a minha irmã ao lado e um gelado na boca é o paraíso na terra. Os anjos da guarda continuam por lá. Fazem-me rir até ficar com dores na cara, com os disparates que dizem e que os fazem passar por gente comum. Depois há os jantares e os copos e beijos e abraços apertados, apesar da gripe.

Estávamos na esplanada. A pasmar. Ela é preta e eu, mesmo morena, ao lado dela sou branca. Ela lê o jornal e eu leio revistas parvas porque os meus neurónios sobreviventes assim me pedem. Às tantas passo os olhos num artigo parvo de revista parva, sobre amigas. Estávamos na esplanada, e eu li em voz alta:

"- A verdadeira amiga é aquela em quem confiamos a 100%. - ...És tu, minha cabra."
E ela:
"- És tu, minha puta."



E que bom que assim é.

10 de agosto de 2009

parece mentira mas é verdadeiro

Avó e neta à mesa. Avó vê muito mal e não pesca nada de inglês, então a neta lê-lhe as legendas do programa da Oprah.
Para preservar a verdadeira identidade das envolvidas, chamemos-lhes Nat e Binhas.

Nat (solteira há quase um ano mas isso agora não interessa nada): Blá blá blá blá oprah oprah oprah, blá blá blá blá espiritualidade oprah blá blá...
Binhas: ...
Nat (puxa pela voz e pelos pulmões e consegue ler as legendas a alta velocidade com uma dicção quase perfeita por amor à sua avó que é surda dum ouvido): Blá blá blá a essência da vida oprah oprah oprah blá blá blá dádiva de Deus blá blá blá blá lições de coragem blá blá blá blá o bem-estar e o amor próprio blá blá...
Binhas: Nat, quantos anos tens?
Nat: ... blá blá opr... Outra vez? Já ontem me perguntaste.
Binhas: Mas não me lembro. Diz-me...
Nat: Pensa. Faz as contas.
Binhas: Vinte e sete?
Nat: Sim. Não estavas a ouvir-me a ler?
Binhas: Estava... Tu não arranjas um namorado? Para casares.
Nat (de volta à Oprah, agora em silêncio para conter o riso porque a sua avó acaba de lhe lembrar o Bruno Aleixo): ...
Binhas (murmura): Eu com vinte e sete anos já era casada. Com vinte e oito tive a tua mãe.
Nat: ...
Binhas: Será que vais ficar solteira para sempre?
Nat: ...
Binhas: ...
Nat: ...
Binhas: Logo jantas cá?
Nat: Não.
Binhas: Oh porquê?!! Oh...
Nat: Binhas, como é que queres que arranje um namorado se passar a vida aqui fechada contigo? Achas que vou dar de caras com um aqui, vindo do nada?!
Binhas: Anda jantar connosco... por que não vens?
Nat: Vou à caça de um namorado!
Binhas: Oh anda...vai caçar à tarde.

8 de agosto de 2009

Paulo F. este post é para si!

Volta e meia o Paulo mete-se comigo por eu abandonar o meu blog e com isso faz-me sempre sempre sorrir. Aqui está mais um post (UAU) num espaço de dias, Paulo!!!


pausa para post


Lembram-se desta pintura e dos pintos mergulhadores?
A minha mais recente pintura subaquática representa cada um dos membros da família, no quartinho de uma menina recém-nascida que - e passo a citar - "faz um beicinho mesmo igual ao do peixinho".

Foi prenda duma tia muito babada (olá Iva!) e é tão fácil perceber quem é quem na pintura que vou deixar que se adivinhe.


familia mergulhadora

filhotes

piranhamarela

piranhazul

mãe galinha

7 de agosto de 2009

caixa de chá

Esta foi uma encomenda muito especial que a Sofia me fez. Para alguém que, além de ser adepto do FCP, gosta muito de chá. Eu e a Sofia fizemos um mini-brainstorm por email, concordámos que uma pitada de bom humor cai sempre bem e o resultado foi esta criatura, pela qual me apaixonei.

caixa de chá

:)

ao sol

Estou a pensar tirar-lhe a conotação futebolística das riscas na camisolinha e fazer umas camisolas a sério, com ele impresso... Sugestões são bem-vindas!

31 de julho de 2009

e passou julho

Não aceito ter passado um mês inteiro sem escrever nada aqui. E se há sítio onde a batota é permitida, esse sítio é a internet. Hoje já é Agosto mas eu exijo ter um post em Julho.

Tenho dores fechadas em caixinhas. Quando ouvi esta frase pela primeira vez achei que alguém me tinha visto por dentro. Quantas dores cabem numa pessoa só?
Eu vou tentando, neste caos que sou por dentro, arrumar todos os pensamentos e desenhos e pinturas em prateleiras. Tudo à vista. E ao som do riso. Mas as dores, guardo-as em caixinhas. Que vou perdendo no meio da tralha. Volta e meia desoriento-me. Perdi a conta às caixinhas que juntei. Só me lembro de acabar sentada num consultório, diante dum médico que tinha olhos azuis e a voz dos colchões colunex. Já não conseguia pensar, nem pintar, nem mexer-me com as dores. Quando abri a boca para lhe dizer das caixinhas, fez-se-me um nó na garganta e comecei a chorar antes da primeira palavra. Ele deu-me o colo de que eu precisava. Ouviu tudo tudo tudo. Segui de lá para uma farmácia.
Depois disso, socorri-me de todos os outros colos que me rodeiam e que não me fazem perguntas, nem julgamentos. O amor cura. Eu sem forças, sem risos, com náuseas. O amor cura. Algures debaixo duma montanha de caixinhas que se desmoronou, estaria eu. E que sorte a minha por tanta gente me reconhecer sem hesitar, apesar de tão desfigurada debaixo dos destroços.

23 de junho de 2009

pinturinha

Para uma menina pequenina linda linda linda. Chamada Íris. Lá vai ela de escorrega. ^-^



pormenor

entrada

(Aproveito o encanto com que fiquei de ver uma bebé tão pequenina para te mandar muitos beijinhos de parabéns, querida Marta. Felicidades!)

a descoberta da semana

Chama-se Tim Minchin e junta três coisas a que eu simplesmente não resisto: boa música, inteligência e sentido de humor delirante.

Esta é a canção de amor que ele dedicou a uma boneca insuflável.



A-do-ro.

19 de junho de 2009

hoje fui à piscina

Não há nada - biquini, fato de banho, fato de ballet, iluminação, calças, saia, tecido, postura, nada - que realce mais a gordura das minhas pernas e rabo do que uma touca de natação enfiada na minha cabeça.

29 de maio de 2009

animais de pano

Para os meus sobrinhos queridos, que ficaram com um quartinho de brincar ainda mais catita.

O quadro de ardósia é falso. Pintei um rectângulo com a tinta Efeito Ardósia da Cin directamente na parede, e aparafusei-lhe a moldura, que há-de ajudar o Francisquinho a manter o giz dentro dos "limites legais". E já que estou numa de publicidade, aproveito para dizer que os funcionários da Misturacôr - onde costumo comprar a tinta - são uns queridos (têm uma paciência infinita para me aturar).



naveg ar

bichos de pano